A importância da psicoterapia em tempos de crise

Crise é a palavra mais usada em nosso vocabulário nos últimos tempos. Em consequência dos grandes escândalos políticos que culminaram em uma tragédia econômica para o Brasil, que atualmente tem em média 11 milhões de desempregados, a crise nos diz que é o momento de fazer mudanças necessárias. Por definição, crise é uma mudança brusca ou uma alteração importante no desenvolvimento de um evento/acontecimento.

Durante nossa vida passamos por vários momentos de crise: Falecimento de pessoas queridas, rompimentos de relações significativas, desemprego, tragédias, doenças incapacitantes e outras situações que nos trazem dor e desconforto e que de uma forma quase violenta, ou às vezes muito violenta nos obriga a mudar nossa maneira de viver e ser no mundo.

Não precisamos passar por nada disso sozinhos. Sim, temos amigos e família que são suporte e nos ajudam como podem, mas quando nenhumas dessas relações nos apoiam mais, a necessidade de ajuda profissional vem a tona.

Há ainda um grande preconceito com a atividade do psicoterapeuta. Já ouvimos pessoas dizerem que é um absurdo pagar alguém para desabafar, ou que psicólogos são loucos ou ainda que não sabem ajudar ninguém por que também tem problemas.

Claro que temos problemas, somos humanos! Mas humanos que escolheram ser um ponto de apoio e ajuda aqueles que não conseguem mais lidar com as crises em suas vidas. Yalom diz que estamos todos juntos nisso, e não existe nenhum terapeuta e nenhuma pessoa imune às tragédias inerentes à existência.

Segundo Jean Clark Juliano, o objetivo da psicoterapia é a restauração do diálogo do cliente/paciente com o seu mundo. Partimos do pressuposto de que, em algum ponto do seu desenvolvimento, esse diálogo foi gravemente interrompido, o que tornou a pessoa descrente das suas possibilidades. Podemos chamar esse ponto de crise. Já para Tereza Cristina S. Erthal, o objetivo da terapia é decifrar os padrões de comportamentos de um indivíduo para chegar à revelação que cada um deles contém.  É um processo de autoconhecimento e mudança.

Durante nossas crises perdemos a conexão com o nosso mundo e a nossa maneira de viver. Não nos reconhecemos mais e isso causa uma grande dificuldade em tomar decisões e fazer escolhas com algum nível de segurança.  O primeiro desafio da terapia é o estabelecimento do vínculo terapêutico, que possibilita ao paciente/cliente ter uma relação com o terapeuta que permite o compartilhar de suas histórias, tendo a escuta e o olhar do profissional e também a sua própria escuta e fala. Para Jean Clark Juliano, com a cumplicidade do terapeuta, um diálogo começa a se tornar possível, indo até o ponto em que a história pode ser ressignificada. Essa ressignificação, essa mudança do olhar, ajuda o cliente/paciente a se reaproximar do seu mundo.

A relação entre terapeuta e cliente/paciente possibilita tratar de diversos assuntos, inclusive da crise financeira que a maioria dos brasileiros vivencia hoje. É uma situação que causa muita insegurança, frustração e no pior dos casos depressão e estresse chegando ao suicídio. Ser honesto com a necessidade de ter uma psicoterapia e o que se tem disponível financeiramente para isso abre precedente ao terapeuta para acolher sua necessidade e juntos estabelecerem um contrato terapêutico bom para ambos.  É em tempos de crise que novas possibilidades vão surgir, por que é o momento em que se está aberto para enxergar aquilo que ainda não estava claro. É tempo de oportunidade. E a psicoterapia pode servir de ensaio para a vida real e cabe a cada um aplicar o que essa relação tem a ensinar.

A terapia é um processo inteligente de se harmonizar a própria natureza. Eliza Wilhelm

Érika Renata - Psicóloga

Referência bibliográfica

JULIANO, Jean Clark. A vida, o tempo, a psicoterapia. Escritos de Jean Clark Juliano. 1 Ed. São Paulo: Summus, 2010.

ERTHAL, Tereza Cristina S. Contas e contos na terapia vivencial. 1 Ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

YALOM, Irvin D. Os desafios da terapia. Reflexões para pacientes e terapeutas. 1 Ed. Rios de Janeiro: Ediouro, 2006

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