Fechando e abrindo ciclos
Um dos fenômenos próprios da vida humana desde o nascimento até a morte são os ciclos. Quando nascemos iniciamos um ciclo que é delimitado por várias características que vamos apresentando ao logo de nosso crescimento biológico, cognitivo e emocional. Passamos da infância para a adolescência, e desta para a fase adulta que culmina com o envelhecimento e consequentemente com a morte.
Vivemos na expectativa de passar por esses ciclos sem nenhuma grande dificuldade e terminar nossa existência neste mundo com bom aproveitamento da vida. Mas a realidade é outra e muitas vezes passa longe de nossas expectativas.
Enquanto não temos que lidar com a finalização do nosso maior ciclo, a vida nos propõe inúmeros outros durante a nossa existência. E eles não são tão fáceis de finalizar. E nem de começar.
Pensando no processo de psicoterapia, que também é um ciclo que começa e depois termina, observo que está cada vez mais difícil fazer as transições necessárias. É como se mudar de ciclo fosse algo distante da experiência humana. Como se não ficássemos sem uma parte do cordão umbilical e depois sem o aleitamento materno. E bem depois sem os dentes de leite. Usei esses exemplos para falar do inevitável. Estamos constantemente mudando, fechando e abrindo ciclos.
Não existe maneira certa de lidar com as mudanças. Mas evitá-las ou simplesmente se recusar a mudar não é certamente a melhor escolha. Temos sim o direito de vivermos como quisermos, mas junto dessa escolha está a responsabilidade de mantê-la e não transferir nada a ninguém.
Quando me proponho a acolher os finais e os começos, me permito a vivenciar experiências que não viveria se permanecesse sempre igual. Não é uma questão de mudar sempre, mas de mudar quando necessário.
Para cada pessoa, os ciclos vêm e vão de maneiras diferentes. Seja nos relacionamentos, nos estudos, no trabalho, nas crenças e hábitos há ciclos fechando e abrindo com frequência. Sair da faculdade e encarar o mercado de trabalho é um grande movimento de abrir e fechar ciclos. Casar, ter filhos, morar no exterior, ter um cachorro, terminar uma relação ou se aposentar são outros acontecendo o tempo todo.
O que importa é como vamos fazer os fechamentos e encarar os inícios. Sua disposição de viver a experiência acolhendo e se atualizando junto com ela é que vai fazer toda a diferença. Dores virão. Momentos em que tudo vai parecer estático como se nada estivesse acontecendo também virão. E junto os dias de grande satisfação por ter feito os ajustes necessários.
A psicoterapia tem sido o espaço que proporciona reflexões de maneira a encorajar uma maior percepção da experiência vivida e uma escolha integra de como passar pelos ciclos que vida nos traz. Além de proporcionar autoconhecimento, ela possibilita acessar áreas de nossa vida que estão longe de nossa percepção.
Se você já consegue passar pelos ciclos de maneira mais consciente, continue investindo nas mudanças. Mas se você está se sentindo paralisado diante de tantos ciclos, a ajuda de um psicoterapeuta será de grande valia. Permita-se.
Érika Renata