O inconsciente vê os homens por detrás das cortinas

Pierre Janet (1859-1947) nasceu numa família culta, de classe média, em Paris. Cresceu interessado por ciências naturais e filosofia. Após cursar a conceituada École Normale Supérieure, em Paris, Janet seguiu para a Sorbonne, onde concluiu o mestrado em filosofia. Com apenas 22 anos foi contratado como professor de filosofia no Lycée, em Le Havre, onde deu início a suas pesquisas sobre estados induzidos por hipnose. Influenciado por Jean-Martin Charcot, ampliou seus estudos para incluir neles “histeria”, tornando-se, em 1898, diretor do laboratório de Charcot, no hospital Salpêtriére, em Paris. Também lecionou em Sorbonne e, em 1902, tornou-se professor de psicologia no Collége de France.

A partir dos meados de 1880, e até 1910, houve grade interesse pelo distúrbio da “dissociação”, isto é, quando alguns processos mentais se separam da consciência do indivíduo ou da sua personalidade cotidiana. Em casos raros, descritos na época como “distúrbio de múltipla personalidade”, o indivíduo parece ter duas ou mais personalidades distintas. Esses exemplos extremos são hoje classificados como “distúrbio de identidade dissociativa”

Pierre Janet é reconhecido como o primeiro as estudar e a descrever a dissociação como um problema psiquiátrico. No final dos anos 1880 e início da década de 1890,  Janet trabalhou no Hospital Salpêtrière, em Paris, onde atendeu pacientes que sofriam de “histeria”. Uma paciente chamada “Lucie”, por exemplo, era geralmente calma, mas de uma hora para outra ficava agitada, chorava e parecia aterrorizada sem razão aparente. Parecia ter três personalidades diferentes. As três personalidades de alternavam principalmente quando Lucie estava hipnotizada.

O drama da infância de Lucie, concluiu Janet, era a causa de sua dissociação. Ele dizia acreditar que eventos traumáticos e estresse podiam ocasionar dissociação em qualquer pessoa predisposta.

Janet chamou de “subconsciente” a parte da mente que acreditava ser a responsável pelo comportamento incomum e perturbado, mas Sigmund Freud considerou o termo vago demais e resolveu batizar de “inconsciente” a fonte dos problemas mentais de seus pacientes. Freud, além disso, levou adiante as ideias de Janet e declarou que a dissociação era um “mecanismo de defesa” universal.

A obra de Janet foi negligenciada durante décadas, pois o uso de hipnose na investigação e no tratamento de doenças mentais estava desacreditado. Contudo desde o final do século XX, seu trabalho tem atraído o interesse de psicólogos que estudam distúrbios dissociativos.

Resumo: Sinais psicológicos de terror ou angústia sem motivo aparente... podem ser resultado de uma ideia subconsciente... que a terapia revela estar relacionada a um incidente traumático anterior. Isso pode levar, em casos extremos, à dissociação – isto é, à existência de duas consciências separadas.

Extraído do Livro da Psicologia - Ed. Globo