O pensamento de Kierkegaard
“Querer ser quem se é realmente é na verdade o oposto de desespero.” Soren Kierkegaard
Soren Kierkegaard (1813-1855) nasceu em uma próspera família dinamarquesa e foi educado como luterano ortodoxo. Estudou teologia e filosofia na Universidade de Copenhague. Em 1840, tornou-se noivo de Regine Olsen, mas rompeu o noivado, afirmando não ser talhado para o casamento. Seu estado geral de melancolia teve efeito profundo em sua vida. Kierkegaard sofreu um colapso na rua em 2 de outubro de 1855 e morreu em 11 de novembro, no hospital Friendrich, em Copenhague.
Em 1849 Soren Kierkegaard publicou O desespero humano, onde ele oferece a autoanálise como uma ferramenta para entender o problema do “desespero”, que ele considerava derivar não da depressão, mas da alienação do “eu”. A questão fundamental “quem sou eu?” vem sendo estudada desde a Grécia Antiga. Sócrates (470-399 a.C.) acreditava que a função central da filosofia era tornar o indivíduo mais feliz por meio da autoanálise e do autoconhecimento e proferiu a famosa frase: “uma vida irrefletida não vale a pena ser vivida”.
Kierkegaard classificou diversos graus de desespero. O mais baixo, e mais frequente, é o resultado da ignorância: o indivíduo tem uma ideia equivocada sobre o que o “eu” significa e não tem a menor consciência da existência ou da natureza do seu “eu” potencial. O verdadeiro desespero ocorre, dizia ele, quando se tem mais consciência de si; os graus mais profundos de desespero derivam da consciência do “eu aliada a uma profunda aversão por esse eu.”
Abandonando o verdadeiro “eu”
Kierkegaard tomou como exemplo um homem que queria torna-se imperador e demonstrou que na realidade ele teria abandonado o seu antigo “eu”. Tanto em seu desejo quanto em sua conquista, ele queria “livrar-se” de si mesmo. Essa negação do “eu” é dolorosa, é avassalador o desespero de um homem que quer se afastar de si, que “não possui a si mesmo; que não é ele mesmo”.
O filósofo concluiu que um homem poderia sentir paz e harmonia se tivesse coragem de ser seu verdadeiro “eu”. Querer ser quem se é realmente é na verdade o oposto do desespero, ou seja, o desespero desaparece quando paramos de negar quem realmente somos e aceitamos a nossa verdadeira natureza.
A ênfase de Kierkegaard na responsabilidade do indivíduo e na necessidade de que esse encontre a sua verdadeira essência e seu propósito de vida é considerada por muitos como o primeiro passo para a filosofia existencialista que deu bases para abordagens psicoterapêuticas.
Resumo do pensamento de Kierkegaard
Desejo ser outro que não eu; ser um “eu” diferente. Tento, portanto, me tornar alguém diferente. Fracasso e me desprezo por não conseguir ou tenho êxito e abandono o meu verdadeiro “eu”. Seja como for, me desespero devido ao meu verdadeiro “eu”. Para fugir do desespero, preciso aceitar o meu verdadeiro “eu”. Ser quem se é realmente é na verdade o contrário de desespero.
O Livro da Psicologia - Ed. Globo