Pollyanna e o Jogo do Contente: Reflexões para os nossos dias

O livro Pollyanna de Eleanor H. Portes foi publicado em 1913 e ganhou notoriedade no mundo todo com a história da menina que era muito otimista e perseverante. A história se passa nos EUA e nos mostra uma garota que ficou órfã e foi morar com a única tia viva no estado de Vermont.

Antes de ir morar com a tia, Pollyanna vivia com o pai, que era missionário, e era ajudado por pessoas de sua igreja e tudo o que tinham vinha de doações que eram enviadas por outras pessoas ao seu pai. Foi através dessas doações que o pai de Pollyanna a ensinou o “jogo do contente”. A menina desejava que uma boneca viesse no meio das doações, mas infelizmente o que veio foram muletas. Pollyanna ficou triste, e então o pai disse a ela: “Podemos ficar contente por não precisarmos de muletas”. Através desse episódio os dois começaram a aplicar o jogo do contente em tudo. Quando o pai de Pollyanna faleceu, as pessoas de sua igreja não podiam mais ficar com ela e então a enviaram para viver com sua tia Polly, que ela não conhecia por causa de circunstâncias do passado de seus pais. Pollyanna foi alegremente viver com sua tia e lá continuou jogando o jogo em todas as circunstâncias que podia, mesmo quando a situação parecia não ser aplicável ao jogo. Pollyanna influenciou toda uma cidade com seu carisma e otimismo mostrando as pessoas que elas podem ser melhores.

Não sabemos o que motivou a autora a escrever sobre uma menina que tinha tudo para ser triste, frustrada, com baixa autoestima e sentimentos de autopiedade. Talvez ela tenha vivido algo parecido ou conheceu realmente alguém com características de Pollyanna. Hoje o nome de Pollyanna e sua história se tornaram um tanto pejorativas no sentido de um excesso de ingenuidade, mas diante da história, é perceptível que estamos longe de lidar com a vida da maneira que Pollyanna lidava. Somos muito pessimistas, intolerantes, maldosos, sem fé e sem esperança.

Pollyanna nos traz lições simples que não vão nos tirar do realismo e nem nos fazer desconsiderar que coisas ruins acontecem a pessoas boas, mas vão nos mostrar que não precisamos fazer as coisas serem mais difíceis do que já são.

- Ser em detrimento do ter: Pollyanna aprendeu que ser otimista e esperar que coisas boas aconteçam, era mais importante do que ter coisas que ela queria. A maneira de ser de Pollyanna fez com que ela tivesse muitos relacionamentos genuínos sendo autêntica.

-Ter mais do que o necessário: A garota aprendeu vivendo com o pai missionário estar satisfeita com o que ela tinha, por que naquele momento era o que ela podia ter. Mas quando suas circunstâncias mudaram, Pollyanna teve muito mais do que ela podia imaginar. Uma grande casa, um grande quarto, uma grande vida.

- Conseguir lidar com as frustrações: Pollyanna tentava sempre ensinar as pessoas que conheceu o seu jogo do contente. Muitas dessas pessoas eram doentes, amarguradas e sem esperança. Eles foram rudes com ela. Mas ela não se deixava abater. De certa forma ela entendia que as pessoas têm o seu tempo para mudarem suas perspectivas a respeito da vida.

-Ver o melhor nas situações mais difíceis: Pollyanna sofreu um acidente e ficou por muito deitada, sem andar. Nesse momento ela sentiu o peso da realidade e não conseguia jogar o jogo. Mas foi nesse período que Pollyanna pode receber de volta todo o incentivo que ela tinha dado as pessoas que passaram pela sua vida. A cidade se mobilizou para ajudar a menina a jogar o “jogo do contente” novamente, por causa do que as pessoas tinham conseguido mudar em suas vidas, ou seja, ela podia ficar contente com os progressos de seus amigos. E no final de tudo ela estava muito contente! (Leia o livro).

Pollyanna ia se assustar muito com as crianças de sua idade nos dias de hoje. São pequenos comandantes de suas casas, tem todas as suas vontades atendidas mesmo a custa de muitos sacrifícios dos pais. Outros infelizmente se envolvem na criminalidade muito cedo e perdem sua infância. Elas aprendem que tem muitos direitos, mas não são ajudados a entender que tem deveres. De quem é a culpa? Nossa. De cada um de nós que perdeu sua Pollyanna diante de tanta maldade.

Acho pertinente jogar o “jogo do contente”, mesmo que tudo a nossa volta esteja escuro demais. Eu posso sim estar contente por que hoje não precisei de muletas para levantar da cama. Alguém no mundo pode estar contente por que sem suas muletas, não conseguira levantar de sua cama. Tudo depende da maneira como você vê. É possível que muitas pessoas leiam e digam: Tenho que ficar contente por que não aconteceu comigo e aconteceu com o outro? Não. Fique contente por que você pode fazer algo.

Referência bibliográfica: PORTER, Eleonor H. Pollyanna. 4º edição - São Paulo: Martin CLaret, 2013